A comunicação no fio da navalha
É aqui que entra a comunicação estratégica. Não se trata apenas de relatar fatos ou sustentar slogans

Setembro foi um mês em que a comunicação sobre sustentabilidade no Brasil caminhou no fio da navalha. De um lado, o governo anunciou a entrada com peso no fundo global de conservação das florestas tropicais — gesto bilionário que reposiciona o país na vitrine da diplomacia climática. Do outro, o Ibama liberou o teste da Petrobras na foz do Amazonas, lembrando que cada narrativa sobre desenvolvimento vem acompanhada de sombras difíceis de dissipar. Entre esses polos, o Brasil ainda propôs a criação de um fórum internacional para discutir os impactos das políticas climáticas no comércio — sinal de que quer ser protagonista não apenas da floresta, mas também das regras do jogo econômico. Esses três movimentos, quando lidos em conjunto, formam uma espécie de roteiro dramático. O Brasil se apresenta ao mundo como guardião da Amazônia, ao mesmo tempo em que flerta com o petróleo em áreas sensíveis. Coloca-se como articulador de uma governança global mais justa, enquanto internamente convive com contradições profundas na sua matriz de energia e no ordenamento territorial. Para quem observa de fora, é inevitável a pergunta: qual Brasil se quer comunicar? O que fala mais alto — a retórica da proteção ou o pragmatismo da exploração? É aqui que entra a comunicação estratégica. Não se trata apenas de relatar fatos ou sustentar slogans. Trata-se de construir uma narrativa que reconheça contradições, explicite dilemas e ofereça coerência num cenário em que a confiança é um ativo raro. Setembro mostrou que o discurso ESG não pode ser tratado como ornamento, mas como infraestrutura simbólica: é ele que sustenta credibilidade quando a realidade insiste em se mostrar paradoxal. Para empresas, governos e organizações da sociedade civil, a lição é clara: comunicar não é escolher o lado bonito da história, mas articular os paradoxos de modo que a reputação sobreviva ao escrutínio. Em tempos de COP30 às portas de Belém, a pergunta central não será apenas “o que se promete?”, mas “como se explica a tensão entre promessa e prática?”. Setembro deixou a pista: quem dominar essa arte narrativa terá voz ativa; quem se esconder no conforto de narrativas unilaterais corre o risco de ser silenciado pelo barulho das contradições. E foi justamente esse barulho, não o ensurdecedor das máquinas ou das tribunas, mas o pulsar coletivo de milhares de vozes nas ruas, que transformou contradição em destino. A derrocada da PEC da Blindagem nasceu desse sopro democrático, belo e indomável, lembrando ao país que nenhuma estratégia de comunicação é mais poderosa do que o gesto vivo de um povo que decide escrever, ele mesmo, a sua narrativa. |