Por Marina Amaral - Agência Pública
Sentada na cadeira da presidência da Câmara, com uma tiara de flores nos cabelos loiros e roupas brancas, a catarinense Julia Zanatta (PL) exalava santidade com a filha de 4 meses no colo, impedindo qualquer tentativa de remoção da ocupação ilegítima. O clima estava tenso quando, finalmente, Hugo Motta (Republicanos) resolveu retomar seu posto em sessão marcada para às 20h30.
Zanatta não foi a primeira a destronar simbolicamente o deputado Hugo Motta, enquanto o incauto presidente visitava alegremente obras no município de Patos (PB), governado há décadas por sua família. Nos dois dias de “obstrução física” do plenário - ou seja, “na marra” - deputados do Novo e do PL se revezaram na ocupação da Mesa. Com os rumores de intervenção da Polícia Legislativa para acabar com a baderna, a bebê era o escudo.
Motta chegou ao plenário perto das 22 horas, depois de negociações mediadas pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), mas ainda teve que esperar um bom tempo para Marcel van Hattem (Novo-RS) ceder o lugar. Cercado por bolsonaristas e gritos por anistia, enquanto a maioria dos deputados pediam em coro do plenário para que eles descessem dali, Motta enfim fez um discurso breve, que só não foi totalmente irrelevante por ter sido proferido do assento presidencial retomado.
Van Hattem disse à repórter Bela Megale que só levantou da cadeira de Motta depois que os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Zucco (PL-RS), segundo ele responsáveis pelas “tratativas que estavam costurando com os líderes do PP, União Brasil e PSD”, garantiram que o acordo havia sido firmado. “A anistia e fim do foro privilegiado passam a ter apoio do PL, Novo, União PP e PSD”, disse Van Hattem, versão que não destoa muito do que foi apurado pela repórter Thais Bilenky, de que Motta teria liberado o centrão para negociar a anistia aos golpistas de 8 de janeiro.
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