Cineasta potiguar Rui Lopes deixa legado de criatividade e resistência cultural
Rui Lopes deixou uma vasta lista de obras inéditas, muitas das quais não concluídas devido à escassez de recursos financeiros e às dificuldades enfrentadas na produção audiovisual independente

Faleceu no último dia 14 de junho de 2025, em Natal (RN), aos 67 anos, o cineasta, roteirista e escritor Rui Lopes. Graduado em Desenho pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Lopes construiu uma trajetória marcada pela dedicação ao audiovisual e à literatura, atuando como diretor e roteirista na produtora Cinatal Filmstudium.
No cinema, destacou-se pela produção de filmes de média-metragem financiados por editais de incentivo à cultura. Entre suas principais obras estão Cabra de Peia (MinC), Minha Bolsa Mágica (Funcarte), Azul Lavanda (Funcarte) e Rota de Mutreta (Cinatal Filmstudium Ltda), projetos que evidenciam seu interesse em retratar aspectos da cultura regional nordestina por meio da ficção dramática, abordando questões sociais, históricas e humanas.
Rui Lopes também teve roteiros contemplados em editais nacionais e internacionais de cultura, com destaque para: A Ponte Sem Fim: Selecionado pelo edital federal de Argumento e Roteiro de Longa-Metragem (MinC, 2009), a obra aborda conflitos existenciais e psicológicos de personagens em um ambiente de adversidades, simbolizando a busca incessante pelo "Vale da Graça", metáfora de um paraíso inalcançável. Cabra de Peia: Roteiro contemplado em edital federal para produção de média-metragem (MinC, 2010), com narrativa ambientada no sertão de Caicó, tendo o cangaço como pano de fundo dramático. O Cordeiro que Caiu do Céu**: Projeto reconhecido em edital multinacional de países de língua portuguesa (2016), sob curadoria do roteirista português João Nunes, retratando um drama social regional. A Volta por Cima: Roteiro classificado em segundo lugar no Concurso Hugo Moss de Curta-Metragem (Rio de Janeiro, 2004).
Na literatura, publicou livros como A Ponte Sem Fim (2011), versão impressa do roteiro homônimo, e A Noite Veste Lilás (2021), coletânea de contos selecionada pela Lei Aldir Blanc, obras que evidenciam seu olhar crítico e reflexivo sobre as contradições humanas. Outra publicação relevante é Cabra de Peia, reunindo três roteiros de média-metragem, também apoiada pela Lei Aldir Blanc.
Sua produção cinematográfica incluiu curtas e médias-metragens como Minha Bolsa Mágica, Cabra de Peia, Azul Lavanda, Rota de Mutreta e projetos experimentais como Thanatusvirus-666 e Jesuino Brilhante – Um Cangaceiro Potiguar, com exibição em festivais regionais e no canal CineBrasilTV. Parte deste material, Rui Lopes divulgou numa stand cultural por alguns anos seguidos durante a realização da Festa do Boi em Parnamirim.
Rui Lopes deixou uma vasta lista de obras inéditas, muitas das quais não concluídas devido à escassez de recursos financeiros e às dificuldades enfrentadas na produção audiovisual independente. Dentre elas, destacam-se títulos como Baião de Dois, Efeito Ômega, Mamulengo-Rei, Dura Lex Sed Lex, Feijoada Brasilis, Compasso de Vingança, A Casa da Lua Cheia e projetos teatrais e documentais, como S.O.S. Trampolim, sobre a participação da base aérea de Parnamirim na II Guerra Mundial.
A dedicação de Rui Lopes à sétima arte foi marcada pela obstinação em transformar idéias em obras cinematográficas, mesmo diante das limitações impostas pelo mercado regional e pela dificuldade de captação de recursos. Sua obra literária, ainda que reduzida em volume, demonstra apuro estilístico e criatividade, funcionando também como refúgio criativo nos períodos em que seus projetos audiovisuais estavam suspensos.
Admirador de escritores como Jorge Amado, Machado de Assis, Érico Veríssimo, Raquel de Queiroz, José Saramago, Umberto Eco, José Lins do Rêgo, Guimarães Rosa, Dias Gomes e Fiódor Dostoiévski, Rui Lopes era também estudioso das áreas de Psicologia, Antropologia e Artes, campos que dialogavam com suas criações no cinema e na literatura.
Seus textos e contos podem ser acessados no portal Recanto das Letras, por meio do link: https://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=214419
O legado de Rui Lopes permanece como testemunho da resistência e inventividade de um artista que soube dar voz às inquietações do homem nordestino, mesclando entretenimento, consciência social e arte.