Orwell e o eco do presente

Nunca George Orwell pareceu tão contemporâneo.

Orwell e o eco do presente

Por Paulo Góis

Meu filho, Paulo Emanuel, recebeu da namorada uma edição luxuosa de 1984, e o gesto, por si só, já carrega simbolismo: oferecer uma obra que continua a dialogar com o presente. Em tempos de vigilância digital, manipulação da informação e discursos autoritários disfarçados de consenso, o livro ressurge como espelho inquietante da sociedade moderna, um alerta que se recusa a silenciar.

A trama acompanha Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade, prisioneiro de um regime que controla o passado, vigia o presente e ambiciona moldar até o pensamento humano. Em meio a uma realidade em que a história é constantemente reescrita, a linguagem estreitada para limitar ideias e a intimidade invadida pela onipresença do Grande Irmão, Winston ousa buscar autenticidade e liberdade. Sua rebeldia, contudo, confronta a engrenagem de um poder que não subjuga apenas os corpos, mas coloniza as consciências.

Neste fim de semana, revisitei 1984 e concluí, mais uma vez, sua leitura perturbadora. O impacto permanece intacto: é uma obra que não conhece o desgaste do tempo, sempre pronta a provocar reflexão.

Tal como em A Revolução dos Bichos, Orwell oferece uma crítica lúcida e implacável sobre os mecanismos do poder e a fragilidade da liberdade. Recomendo ambas as leituras não apenas como clássicos indispensáveis da literatura, mas como faróis que iluminam os perigos sempre latentes de nossa vida em sociedade.