Artista potiguar realiza restauração de histórico painel dos Mártires de Uruaçu
A obra retrata os santos beatificados que foram martirizados durante o período da colonização holandesa no Brasil.

O desenhista Gilvan Lira, natural de São Rafael (RN) e com vasta experiência em ilustração, pintura e histórias em quadrinhos, está atualmente dedicado à restauração dos painéis que retratam os Mártires de Uruaçu. A obra, de sua própria autoria, foi criada há 25 anos e representa um importante marco religioso e histórico para o Rio Grande do Norte.
O trabalho de restauração, iniciado há cerca de um ano, é realizado no ateliê do artista, em sua residência, utilizando tintas especiais, pincéis e técnicas minuciosas que exigem paciência e precisão. O painel, originalmente pintado em janeiro de 2000, foi exposto pela primeira vez no processo de beatificação dos Martires de Uruaçu no Vaticano, presidida pelo Papa João Paulo II, o mesmo Papa que virou São João Paulo II em 2014 e esteve em Natal no contexto de um congresso eucarístico nos anos 1990. A canonização dos Mártires de Uruaçu também foi realizada na Basílica de São Pedro em outubro de 2017, no Vaticano, pelo Papa Francisco, falecido em abril passado.
A obra retrata os santos beatificados que foram martirizados durante o período da colonização holandesa no Brasil. Originalmente, o painel ficava na capela do Monumento aos Mártires, em São Gonçalo do Amarante, município que celebra anualmente, como feriado estadual, a data religiosa em memória dos mártires.
Gilvan explicou que a atual restauração começou em julho de 2024, mas precisou ser interrompida por questões de saúde, sendo retomada apenas em 2025. Ele também relembra um restauro anterior, realizado em 2006, a pedido do Monsenhor Assis Pereira, com quem trabalhou na execução original da pintura. “Demorei 18 meses para concluir a restauração naquela época. Agora, sigo o mesmo cuidado: todo o painel está sendo repintado, pequenas áreas por vez, respeitando a estrutura original, as cores e os tons. É um trabalho meticuloso, mas prazeroso”, destacou.
Apesar de afirmar que talvez não tenha total dimensão da importância religiosa ou histórica da obra, Gilvan ressalta seu significado pessoal. “Ter sido escolhido para dar uma personalidade definitiva aos Santos Mártires e ver os fiéis cultuando-os me causa um sentimento de satisfação e dever cumprido, tanto na arte quanto na vida”, afirma.
Trajetória artística
A carreira profissional de Gilvan Lira começou na Secretaria de Educação do Rio Grande do Norte, produzindo ilustrações para cartilhas didáticas. Posteriormente, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou exclusivamente com histórias em quadrinhos de diversos gêneros. É artista visual formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e atuou no Grupo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos, publicando na revista Maturi.
Entre suas produções, estão a HQ Guerreiro das Dunas, em parceria com Emmanuel Amaral, Márcio Coelho e Watson Portela, capas de livros de autores potiguares e participação em exposições como A Arte dos Canhotos, realizadas na Capitania das Artes e no Palácio da Cultura. Morou e trabalhou profissionalmente na Europa, onde realizou duas exposições internacionais, nas cidades de Kriens e Luzern, na Suíça.
Atualmente, o artista também desenvolve o roteiro de uma história em quadrinhos sobre os massacres de 1645, tema que exige intensa pesquisa histórica. Suas principais referências artísticas incluem Hal Foster, Moebius, Frazetta, Ivo Milazzo, Jordi Bennet, entre outros. No cenário brasileiro, admira o trabalho do desenhista Mozart Couto.